Outro
dia,estava caminhando pela rua quando...CATABUMBA ! Um tropeção me fez
andar,quase que involuntariamente,alguns metros à frente. E,pra
completar,fiquei com a face pertinho do chão. UFA ! Por pouco ! Dessa vez me
segurei,não caí. Mas espera um pouco...eu falei “me fez andar “ ? Que andar?
Aquilo foi praticamente um voo ! E quando me estabilizei e voltei (aí sim !) a
andar, me pus a pensar no ridículo dessa situação que,todo mundo, pelo menos
uma vez, já passou : o clássico “catar cavaco”. Catar cavaco nada mais é do que o nome dado a essa espécie de voo
esdrúxulo a que a gente se submete imediatamente após tropeçar. Não,nem todos os
tropeções levam a isso,mas na grande maioria dos casos, dependendo das
circunstâncias,sim...E a gente fica naquele “cai-não-cai”,toca o pé no
chão,volta a tirar,alternando-os,numa velocidade imprecisa,mas que de qualquer
forma torna muito difícil a reestabilização completa do corpo. O resultado é :
ou um tombo,normalmente espetaculoso, que promove um misto de diversão e pena
aos que assistiram ,ou somente gera um susto do “quase caí”. A gente se mantém
de pé,mas não menos constrangido. Olha ao redor e vê risos contidos e rostos te
contemplando como se nunca tivessem passado por isso. Duvido ! Porém,o jeito é
retomar a postura e seguir seu rumo ,mesmo sem graça.
O
pior do “catar cavaco” é a angústia de não saber se vamos cair ou não. Enquanto
estamos ali, vivendo nosso estranho “voo”, naqueles segundos que parecem uma
eternidade, o que mais incomoda é o desfecho. Incrível como em tão pouco
tempo,passam-se tantas coisas pela cabeça : “Meu Deus,vou me espatifar!” ; “
Caramba,vou dar com a cara no chãooo!”; “ Que mico !” ; “ Vou cair,não vou,vou
cair,não vou...” ; “ Já era !” . A variedade de pensamentos é grande . E acho
que é muito raro alguém sustentar apenas um desses. E o engraçado (mesmo !) é
que,caindo ou não, você demora um pouco a pensar normalmente de novo,depois de
concluída a desventura. Somos tomados por um “branco “ na mente,seguido por um
instantâneo “onde estou ?” . Depois disso sim,você se dá conta do que houve e
do ridículo que passou . E o diabo é que comumente nos preocupamos mais com os
outros do que com nós mesmos. Não importa se você torceu o pé,fraturou o punho
ou ralou o joelho. Não ! Isso fica pra depois ! O importante naquele momento é
reparar o impacto que o seu tombo (ou não-tombo) causou. Alguns levantam-se
rápido (“que foi,nunca viu ninguém cair ?”) . Outros ficam um tempo
esparramados ou de quatro no chão (“olhem pra mim ! Eu caí!” ou “não tenho coragem de sair daqui!” ). Ou mesmo quando não se cai, a importância
maior ainda assim, é dado aos que nos cercam, pois fazemos uma estranha questão
de olhar à nossa volta como que “caçando”
aqueles semblantes de decepção nas pessoas que ficaram desapontadas
porque você não caiu...
Então,pensando
nesse assunto,vou lançar,a partir da situação grotesca que é “catar cavaco” uma
campanha de autovalorização . Quando isso lhe acontecer, pense em si ! Veja se
está tudo bem consigo,se por acaso se machucou,se ficou tonto,se rasgou a
roupa...O que os outros pensam,você não tem nada com isso. Afinal,como diziam
os antigos : “araruta tem seu dia de mingau”. E se você foi hoje o ator
principal dessa cena patética e hilária,pense que amanhã poderá ser o
espectador do infortúnio alheio. E que também vai ter vontade de rir...
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