terça-feira, 21 de agosto de 2012

CATAR CAVACO


Outro dia,estava caminhando pela rua quando...CATABUMBA ! Um tropeção me fez andar,quase que involuntariamente,alguns metros à frente. E,pra completar,fiquei com a face pertinho do chão. UFA ! Por pouco ! Dessa vez me segurei,não caí. Mas espera um pouco...eu falei “me fez andar “ ? Que andar? Aquilo foi praticamente um voo ! E quando me estabilizei e voltei (aí sim !) a andar, me pus a pensar no ridículo dessa situação que,todo mundo, pelo menos uma vez, já passou : o clássico “catar cavaco”. Catar cavaco nada mais  é do que o nome dado a essa espécie de voo esdrúxulo a que a gente se submete imediatamente após tropeçar. Não,nem todos os tropeções levam a isso,mas na grande maioria dos casos, dependendo das circunstâncias,sim...E a gente fica naquele “cai-não-cai”,toca o pé no chão,volta a tirar,alternando-os,numa velocidade imprecisa,mas que de qualquer forma torna muito difícil a reestabilização completa do corpo. O resultado é : ou um tombo,normalmente espetaculoso, que promove um misto de diversão e pena aos que assistiram ,ou somente gera um susto do “quase caí”. A gente se mantém de pé,mas não menos constrangido. Olha ao redor e vê risos contidos e rostos te contemplando como se nunca tivessem passado por isso. Duvido ! Porém,o jeito é retomar a postura e seguir seu rumo ,mesmo sem graça.
O pior do “catar cavaco” é a angústia de não saber se vamos cair ou não. Enquanto estamos ali, vivendo nosso estranho “voo”, naqueles segundos que parecem uma eternidade, o que mais incomoda é o desfecho. Incrível como em tão pouco tempo,passam-se tantas coisas pela cabeça : “Meu Deus,vou me espatifar!” ; “ Caramba,vou dar com a cara no chãooo!”; “ Que mico !” ; “ Vou cair,não vou,vou cair,não vou...” ; “ Já era !” . A variedade de pensamentos é grande . E acho que é muito raro alguém sustentar apenas um desses. E o engraçado (mesmo !) é que,caindo ou não, você demora um pouco a pensar normalmente de novo,depois de concluída a desventura. Somos tomados por um “branco “ na mente,seguido por um instantâneo “onde estou ?” . Depois disso sim,você se dá conta do que houve e do ridículo que passou . E o diabo é que comumente nos preocupamos mais com os outros do que com nós mesmos. Não importa se você torceu o pé,fraturou o punho ou ralou o joelho. Não ! Isso fica pra depois ! O importante naquele momento é reparar o impacto que o seu tombo (ou não-tombo) causou. Alguns levantam-se rápido (“que foi,nunca viu ninguém cair ?”) . Outros ficam um tempo esparramados ou de quatro no chão (“olhem pra mim ! Eu caí!” ou  “não tenho coragem de sair daqui!” ).  Ou mesmo quando não se cai, a importância maior ainda assim, é dado aos que nos cercam, pois fazemos uma estranha questão de olhar à nossa volta como que “caçando”  aqueles semblantes de decepção nas pessoas que ficaram desapontadas porque você não caiu...
Então,pensando nesse assunto,vou lançar,a partir da situação grotesca que é “catar cavaco” uma campanha de autovalorização . Quando isso lhe acontecer, pense em si ! Veja se está tudo bem consigo,se por acaso se machucou,se ficou tonto,se rasgou a roupa...O que os outros pensam,você não tem nada com isso. Afinal,como diziam os antigos : “araruta tem seu dia de mingau”. E se você foi hoje o ator principal dessa cena patética e hilária,pense que amanhã poderá ser o espectador do infortúnio alheio. E que também vai ter vontade de rir...


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