O "DE SEMPRE" QUE NÃO É "DE SEMPRE"

Sabe,andei reparando tudo que me cerca e... Acho lindo e fico admirando cada vez que passo,por exemplo,pela enseada de Botafogo e vejo  o mar e o pão de açúcar. Acho muito fofo cada vez que um dos meus pássaros toma banho batendo as asinhas cantando de alegria e igualmente encantador é quando eu volto da rua e o cãozinho me recebe com uma festa incrível,abanando o rabo e pulando,como se eu tivesse voltando de uma excursão na Europa,mas eu só fui ao supermercado...Acho divino o cheiro e o aroma do café quando eu o tomo,especialmente pala manhã,pois parece que ele tem o gosto de o prenúncio de um novo dia que está chegando e que me oferece milhões de possibilidades...Adoro a sensação de um banho,a água caindo sobre meu corpo,energizando-o e revigorando-o.Acho ótimo reencontrar as pessoas,ainda que eu as veja todos os dias e fazer parte de seus mundos. E são tantas coisas mais. Coisas que acontecem todos os dias,praticamente,coisas do cotidiano. Não sou uma pessoa avessa à mudanças. Muito pelo contrário! Sempre prego que mudar é preciso,e tento fazê-lo. Porém,o que são mudanças,na realidade? No meu ver,elas não precisam ser transformações radicais e loucas (e não que isso também não seja legal...). Mudar é todo dia. Ver cada vez as coisas de um modo,com novos olhos. Sentir cada vez diferente. Ouvir de outro modo,sons que sempre se ouve. Aliás,o “sempre” é algo muito diverso,controverso e vulnerável. Algo pode ser para sempre,mas mudando constantemente,adequando-se às circunstâncias. De repente é justamente por isso que sobrevive. É muito chato ser sempre igual. Mas a diferença somos nós que fazemos.  Por que não prestar mais atenção às belezas de minha cidade só pelo fato de morar nela e por isso as ver sempre? Por que não achar uma gracinha os pássaros ou o cão só pelo fato deles fazerem sempre “as mesmas coisas”.Qual o motivo de não saborear o café ou desfrutar do banho só pelo fato de serem coisas que faço todos os dias? O cotidiano torna-se enfadonho e entediante se deixarmos.Sair da rotina é importante sim,e vê-la de maneira diferente é um dos modos de fazê-lo. Afinal,mudamos,o tempo todo,todos os dias,toda hora,mesmo sem percebermos,mesmo que seja só um pouco. Não sou a mesma de dez anos atrás assim como não sou a mesma de dez horas atrás. Sou um ser mutante. Todos nós somos. E tudo a nossa volta também o é. Por mais que existam aqueles que resistem às modificações e apegam-se a querer ser sempre os mesmos.Até esses mudam. Evoluem pouco,estagnam,não aproveitam e nem muitas vezes sentem as transformações,mas nem que seja um pouco mudam. Repare bem ao seu redor. O que você vê? O que percebe? O que sente? Sempre as mesmas coisas,pessoas,sensações? Como você lida com o seu cotidiano? Banalizando-o ou tentando renová-lo? Como é a sua relação com o seu dia a dia ? Ando pensando muito nisso.Na maioria das vezes,deixamos de dar o devido valor ao que temos. E ao que somos. Quando isso acontece,não seria a hora de rever essa atitude? São tantas coisas a desfrutar e agradecer...inclusive essa nova percepção ,abre fronteiras e faz você enxergar mais longe,até mesmo o que já estava ali o tempo todo mas não era notado. E também novidades que vão surgindo,dimensões que vão se abrindo,justamente porque estamos mais receptivos  à elas... Precisamos estar atentos ao eterno espetáculo da vida que se apresenta diante de nós todos os dias mas muitos de nós,por pura falta de sensibilidade, às vezes não conseguimos captá-lo. Vê-lo somente não basta. Temos de senti-lo. E tomarmos consciência de que fazemos parte dele.

“O hábito,esse demônio que devora todos os sentimentos”
(Shakespeare)
“Sábio é quem não se aflige com o que lhe falta e se alegra com o que possui”
(Demócrito)

“Sinto-me nascido a cada momento para a eterna novidade do mundo”

( Fernando Pessoa)